Entendendo seu estilo aos vinte e poucos anos

Os vinte são, na minha experiência, a primeira vez que ganhamos uma melhor noção de quem somos. E não estou falando do começo dos vinte, mas do meio, quando já terminamos a faculdade e estamos no mercado de trabalho.

É bem neste ponto da vida que nos deparamos com o espelho e vemos nosso reflexo sozinho e livre de referências das nossas amigas da adolescência. Referências essas que facilitavam horrores na hora de se vestir, já que era só copiar o que nosso grupo já usava.

 

De repente, quando estamos ali sozinhas no espelho, bate aquela crise. Não saber o que vestir e nem mesmo por onde começar, não sentir que existe uma conexão entre quem você é e o que tem no seu guarda-roupas, sentir que você já não sabe mais se vestir...

 

Eu não sei você, mas eu e muitas das minhas amigas e clientes já passaram por isso – é, inclusive, um dos motivos pelos quais jovens profissionais buscam meus serviços de consultoria de estilo.

 

Encontrar quem somos e saber vestir essa versão de nós passa a ser uma missão, um objetivo no qual o único foco é poder se sentir bem e se sentir apropriada nos ambientes que se frequenta. O problema dessa missão é que é extremamente fácil cair na ideia de que, aos vinte e poucos anos, a gente precisa se vestir como as adultas responsáveis e profissionais que somos, nos perdendo em um mar de blazers e calças de alfaiataria que fazem tão parte do nosso DNA de estilo quanto usar um pano de prato com frase bíblica como uma camiseta (não faz parte, preciso deixar claro o meu humor).

 

Mas o que fazer, então, quando perdemos nossas referências do dia a dia e nos afogamos no mar de looks corporativos do Pinterest? Bom, é aqui mesmo que se começa uma jornada longa, chata, trabalhosa e muito, muito compensadora.

 

Falando como consultora

Se você caiu neste post por acaso, precisa saber que sou formada em design de moda e tenho pós-graduação em consultoria de imagem. Hoje prefiro me chamar de consultora de estilo, já que trabalho e gosto muito mais de trabalhar a parte de estilo do que a parte comportamental da minha profissão.

 

Enfim, atuando desde dois mil e vinte na área, uma coisa que posso te assegurar é que esse sentimento de falta de estilo é uma coisa muito mais comum do que você imagina e eu posso te garantir que todas as mulheres de vinte e poucos anos – e talvez até mais velhas – provavelmente se sentem tão inseguras quanto você.

Claro que para toda regra, temos exceções, mas quando o que vestimos está tão ligado a quem somos, ter crises de identidade no guarda-roupas passa a ser algo normal e esperado, já que é impossível que nosso estilo e nossa vida sejam lineares e constantes o tempo inteiro.

 Para minhas clientes eu sempre gosto de ressaltar que nosso estilo muda de acordo com nossa vida. Quando nossa preocupação é só a faculdade, por exemplo, nossos looks refletem a necessidade pela casualidade do ambiente. Quando passamos para o mundo profissional, precisamos considerar o código de vestimenta da empresa, como nossos colegas de trabalho se vestem, o que é possível usar para ficar confortável durante o transporte até o trabalho, o quão prático será sair do trabalho e usar o mesmo look para o happy hour...

 E tudo isso só pensando na vida profissional, viu? Quando adicionamos neste mix momentos como a busca por um novo relacionamento, um casamento, uma gestação, uma demissão, um trabalho novo, uma cidade ou país diferente, tudo agrega e faz com que nosso estilo – e a percepção do que funciona para você – mude muito.

 

Pense no seu estilo e os diversos momentos e necessidades da sua vida e rotina como atualizações de softwares que precisam acontecer para que tudo funcione como deveria. Uma referência aleatória, eu sei, mas acho que faz sentido.

 

Voltando um pouco para meu lado de profissional de estilo e falando como sua consultora, existem alguns métodos diferentes de classificação e diagnóstico de estilo, sendo alguns dos mais conhecidos o método Kibbe – que irei te convidar a pesquisar mais sobre, já que não faz parte dos meus conhecimentos – o método dos sete estilos universais, criado pela consultora de imagem Alyce Parsons, e o método dos dez estilos universais, que, assim como o método Kibbe, foge um pouquinho dos meus conhecimentos.

 Explicando da maneira mais simplificada possível, o método dos sete estilos universais de Alyce Parsons categoriza em sete blocos diferentes percepções de estilos com base em alguns elementos visuais característicos de cada um. Essas categorias são clássico/tradicional, elegante, esportivo, romântico, dramático, sexy e criativo. Não é tão complicado como eu fiz parecer, calma. Basicamente identificamos nas roupas as formas, texturas, cores e estampas e colocamos cada uma em uma caixinha diferente.

Uma blusa rosa pastel de mangas bufantes e decote coração, vai para a caixinha do estilo romântico, já um blazer preto de corte reto e ombros estruturados vai para a caixinha do estilo clássico/tradicional, por exemplo. Os códigos não precisam ser tão óbvios assim, mas para exemplificar e para você entender, fica mais fácil.

 

Segundo Alyce, uma pessoa pode ter até três estilos diferentes na composição de seu estilo, ou seja, aqui já desbancamos a ideia de que temos um estilo só. No meu trabalho eu tomo a liberdade poética de expandir um pouco mais essa ideia, considerando que temos um estilo principal como base, seguido por dois estilos complementares e por mais um ou dois estilos que funcionam como um toque de personalidade no seu guarda-roupas.

 

Senti que complicou de novo, então vamos lá: nos meus atendimentos uso os estilos universais como base do meu diagnóstico e, através de conversas com a cliente, identificamos qual é o estilo mais relevante no guarda-roupas dela. Uma pessoa que trabalha em home office e gosta de estar confortável, por exemplo, geralmente tem o estilo esportivo como base. Já uma pessoa que trabalha há anos no corporativo, tem o estilo clássico/tradicional. Não é regra, mas sim exemplos do que acontece no dia a dia. Além disso, adaptei alguns nomes e estilos para facilitar a comunicação com minhas clientes, fazendo com que tudo ficasse mais fácil de ser entendido e aplicado no dia a dia.

No meu método, dividi os estilos em oito categorias diferentes e os chamo de clássico, natural, esportivo, criativo, urbano (dramático), magnético (sexy), romântico e sofisticado (elegante).

Uma vez com o estilo de base, conversamos mais um pouco até chegarmos nos estilos complementares, que são, em geral, estilos que a pessoa gosta, por vezes tendo como referência de alguma pessoa famosa ou personagem de série de tv/filme e tem como desejo de imagem, ou seja, algo que a cliente quer usar. Aqui encontramos estilos como o elegante, o romântico e o urbano. Já o toque de personalidade entra como estilos que não estão necessariamente presentes o tempo todo no que usamos, mas que podem aparecer ocasionalmente, fazendo com que nosso guarda-roupa se conecte e fique com nossa cara. Aqui vejo muito do estilo criativo e sexy.

 

CONSTRUINDO UMA RELAÇÃO COM SEU ESTILO

Muita informação, não é? Mas é isso, se tratando de estilo e de descobrir qual é o seu, enfrentamos algumas análises que demandam tempo e informação. Falando em tempo, é hora de eu te contar que entender seu estilo vai demorar. Seja com a ajuda de uma consultoria ou sozinha, você vai precisar se permitir viver cada etapa de descoberta, experimentar com roupas e referências diferentes e fazer algumas adaptações para identificar o que funciona para você e para o que você quer.

 Para que você construa uma boa relação com seu guarda-roupas, e consequentemente com seu estilo, você vai precisar construir uma boa relação com você. É entendendo quem você é que você vai conseguir entender o que você gosta de comprar, vestir e ver.

 

Ah, e se houver uma crise um pouco mais intensa com relação a sua autopercepção, seu corpo e como você se vê no espelho, antes de mexer no seu armário, eu sugiro trabalhar o seu emocional com uma profissional da psicologia. Assim você garante um processo mais leve e que te permitirá consistência nesse momento de novas descobertas visuais.

 

Uma coisa que vale para o vestir e para o resto é saber que tudo que se constrói demanda atenção e cuidado para que seja mantido. Não adianta nada você focar quatro semanas da sua vida em uma consultoria de estilo e passar o próximo ano sem aplicar nada do que aprendeu.

Se tratando do seu estilo, quanto mais personalizado para você, melhor. Por isso você precisa reforçar os pontos que gostou, analisar o que aprendeu e tirar o que acabou não fazendo tanto sentido assim para sua vida. Isso na consultoria, ok? Sozinha, você vai precisar separar um tempo da sua vida para fazer essas análises.

De todo modo, sendo com a ajuda de uma consultoria ou não, construir um relacionamento duradouro com seu estilo pessoal e entender como ele funciona, vai ser tedioso as vezes. Vai demandar pesquisas, referências, experimentações com o que você veste e pode ser bastante cansativo. O importante é focar no que você quer e dar o primeiro passo.

 

DICAS PARA FACILITAR SUA VIDA

Se você clicou neste post esperando as dicas, finalmente chegamos a elas! Eu vou aproveitar o espaço, inclusive, para tirar algumas dúvidas enviadas no meu canal de transmissão no IG, então vamos lá!

 

- A primeira coisa que você precisa fazer para entender seu estilo é olhar o seu guarda-roupas. As peças de roupa, sapatos, bolsas e acessórios que você usa dizem muito sobre seu estilo. Se você tem um armário com muito jeans, camisetas e tênis, pode se encaixar no estilo esportivo, por exemplo. Agora, se seu guarda-roupas é recheado de peças assimétricas, dramáticas e que parecem saídas de um desfile de moda, as chances são de que seu estilo seja o urbano.

 

Mas, como disse lá no comecinho do texto, temos vários estilos. Então vale você observar tudo o que tem no seu guarda-roupas e categorizar suas peças de forma individual. O que tiver em maioria é seu estilo de base, e as minorias são seus estilos complementares. Vou deixar aqui um link para minha pasta de estilos no Pinterest, assim você consegue identificar suas peças e categorizá-las de maneira mais simples.

 

- Seguindo no Pinterest, minha segunda dica é algo que bato sempre na tecla, mas que literalmente mudou minha vida: tenha referências. Construa uma pasta de imagens com looks que façam sentido para o que você gosta e para o que você faz no dia a dia. Sempre válido lembrar que de nada adianta ter uma pasta de referência só com looks da sua estrela pop favorita em turnê se você é CLT, meu bem.

 

- A terceira dica complementa as duas outras e é: tenha alguém em quem se inspirar. É muito mais fácil conseguir boas referências se você tem uma pessoa em específico em mente – e quando digo pessoas, me refiro a personagens também. Desde que essa pessoa tenha um estilo de vida similar ao seu ou atue na mesma área que você, será uma boa referência para começar.

 

Respondendo as dúvidas de vocês

(Como) entender que meu estilo retrata quem eu sou e não apenas copiar looks? E quando se gosta de mais de um estilo, tem como conciliar?
— Babi Gops - cliente da consultoria de estilo

Bom, para conseguir representar quem você é, você precisa se conhecer. O que você gosta de usar? Quais cores te favorecem? Que tipo de sapato você acha mais confortável?

É a partir do autoconhecimento que você irá conseguir expressar o que você realmente gosta, saindo da “cópia” dos looks das suas referências e partindo para construções de looks baseados em você mesma.

 Detalhes simples como adaptar os looks de inspiração também ajuda muito a te tirar dessa casinha, então tente sempre alterar algo no look original, traduzindo aquilo para o que você quer usar no dia. Se você gostou de um look contendo uma camiseta branca oversized com saia mídi e scarpin, mas não quer usar scarpin no dia, mas sim seu tênis novo, troque esses itens.

 Pequenas adaptações são bastante significativas quando você quer deixar seus looks a sua cara, então não tenha medo de usar sua referência como ponto de partida e adaptá-la ao que você prefere/gosta de usar.

 

E sobre conciliar estilos, é sim super possível. Faça uma matemática básica, pensando no estilo que você quer que seja o protagonista do seu look naquele dia, trazendo mais peças que transmitam essa mensagem. Depois adicione peças e acessórios que possam complementar os outros estilos.  

Essa é, inclusive, a fórmula do seu estilo. Trazer diferentes elementos de diferentes estilos e traduzi-los em um único look. É exatamente isso que faz com que o estilo seja seu e você perca a sensação de estar apenas copiando looks de outras pessoas.

 
Tenho dificuldades com roupas confortáveis para trabalhar
— Bruna Martins - Seguidora

Aqui a solução é simplificada: entenda primeiro o que é conforto para você e siga nessa direção para compor seus looks.

Uma coisa sobre conforto, é que varia demais de pessoa para pessoa. Eu, por exemplo, já não consigo usar jeans skinny, enquanto sei que a Bruna usa e gosta de usar. Então faça uma lista de peças confortáveis para você e para as atividades que você executa no trabalho, mesclando com suas referências e o que você gosta de usar.

 
Como mudar o tipo de calça?
— Cristiane Santos - minha mãe

Isso ela se refere ao fato de só ter calças jeans no armário dela. E sim, gente, só ela só tem calça jeans.

 Nesse caso estamos falando de uma pessoa que, há anos, usa apenas o mesmo tipo de peça, com algumas variações em modelos e cor, mas mantendo o tipo de tecido – que para o jeans, é extremamente característico e a parte principal de diferenciação dessa peça para outras.

 Como temos um caso de hábito e a vontade de mudar este hábito, a melhor coisa a se fazer é mudar aos poucos, trazendo peças que tenham um peso similar ao jeans, ainda que tenham tecidos diferentes.

Um começo interessante aqui seria optar pela sarja, por exemplo, e trazer algumas cores diferentes dos tons de azul típicos do jeans. Uma sarja em preto, depois em um marrom, talvez, seguindo para o areia até que você esteja adaptada as peças e pronta para experimentar tecidos diferentes.

Uma coisa que eu não recomendo fazer durante esse momento de adaptação com novas peças de roupa, assim como um novo estilo, é se permitir ter tempo para se acostumar. A única coisa que faz a gente se apaixonar de cara ou detestar para sempre é comida. Se tratando de roupa e estilo, precisamos de tempo e experimentações em diferentes composições até encontrarmos o que funciona para o que queremos.

 

Bom, acredito que para um primeiro momento dissertando sobre o assunto já temos uma boa base. Ainda assim, se você tiver dúvidas sobre como navegar pelo mar confuso do que é o seu estilo, pode deixar seu comentário aqui em baixo e volto para conversarmos um pouquinho mais.

Tay Fernandes

Tay Fernandes nasceu e cresceu em São Paulo, SP e desde muito nova já pensava em trabalhar com moda. Especialista em Coloração Pessoal e Consultoria de Imagem Masculina e Feminina, hoje foca em um atendimento em que se mesclam as tendências do momento somadas a personalidade de cada cliente, construindo cada projeto de estilo do zero e personalizando-os de acordo com a necessidade apresentada por cada indivíduo.

https://thestylemapper.com
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